Os homens são todos ingratos, volúveis, simuladores, covardes, ambiciosos. Quando se tem poder não há necessidade de negociar, pois as falsidades são permitidas aos poderosos. Esses são alguns dos conselhos e opiniões de Nicolau Maquiavel em O Príncipe, obra concluída no ano de 1513.
Para entender as reais intenções de Maquiavel ao propor medidas tirânicas é preciso conhecer vários dos episódios do período renascentista, que foi tão esplendoroso quanto conflituoso.
O Renascimento foi uma época de transição, marcada pela crise da consciência, da política e da religião. Como resultado da primeira crise apresentada surge um homem novo que valorizava a capacidade da razão humana para conhecer e transformar a realidade. Em suma, agonizava a visão teocêntrica do homem medieval e, ascendia a percepção dos humanistas voltada para a capacidade de observação e a experiência.
Não foi por acaso que Maquiavel, originário da cidade de Florença, teve inspiração para escrever sua grande obra. Essa cidade, como era o coração do pensamento intelectual renascentista e também cenário de rivalidades familiares, conspirações, traições e alianças em função do poder de tantos personagens marcantes como César Bórgia, Soderini, Savanarola, a célebre família Médici e seus poderosos inimigos da família Pazzi e tantas outros florentinos que renascem em seus escritos.
A republica florentina, numa tendência acompanhada por outras cidades-estado da Itália, sucedam-se às custas sórdidas artimanhas de chefes militares mercenários, chamados condottiere ou das famílias detentoras de poder político e econômico. Os Médici eram pertencentes da classe de ricos mercadores que a partir dos lucros do comércio realizado no mar mediterrâneo, desde a baixa Idade Media, fundaram bancos internacionais, que por sua vez impulsionava o pensamento humanista.
Pensamento que, se por um lado, incentivou a retomada da busca pelo total potencial humano e despertou a consciência ao individualismo, a liberdade e a capacidade criativa, por outro, muito serviu para muitos sucumbissem ao abismo da corrupção, da vaidade e da cobiça, características do déspostas e tiranos. Para entender as reais intenções de Maquiavel ao propor medidas tirânicas é preciso , ainda, se dar conta do seu profundo patriotismo. E, como um patriota esse florentino se preocupava com a constituição de uma nação italiana. Aqui vale a pena lembrar que, Sebastiam de Grazia, explica originalmente o termo italiano se referir aos antigos povos da península durante a antiguidade. Mas, a despeito de se identificar como um italiano, Maquiavel era contrário as cidades inimigas de Florença, como Veneza e Milão. Logo, a partir deste paradoxo que não ultrapassa os conselhos do bom senso, ele preocupa-se mesmo é com a defesa dos interesses “italianos” contra os ataques e invasões dos outros povos, o francês e espanhol, denominado por ele como bárbaros.
Por conseguinte, em sua tese, diante dessas adversidades e em um momento de corrupção e desordem o melhor a fazer era apelar para os principados novos, os quais seriam os únicos capazes de seguir suas táticas, e quem sabe, unificar a Itália, repetindo o exemplo do império Romano.